quinta-feira, 11 de dezembro de 2014


Ha exatos 30 anos da morte de minha mãe, memórias quase esquecidas me visitam trazendo um doce sabor de nostalgia. Com a esperança de agarra-las e segurar bem forte junto ao peito de forma a nunca mais deixa-las escapar, escrevo o relato deste lampejo de lembrança para mantê-la viva.

Lembranças
Se minha mãe estivesse viva hoje, acho que ela se orgulharia de mim. Pelo menos eu gostaria que ela se orgulha-se de mim. Foi duro chegar até aqui, não sei se foi a vida que não me deu muitos caminhos, se eu é que não soube percebe-los, ou se por meu temperamento difícil e teimoso escolhi o mais longo e difícil. Sou obrigada a confessar que não sou fácil!
O meu pai babava nos filhos, então ia se orgulhar por qualquer coisa que fosse. Minha mãe não, ela era dura, exigente, dava muito valor a educação e sempre dizia: “Estudem para nunca ser dependentes de ninguém”. Ela não gostava de depender do meu pai, como só tinha o ginásio e parou de trabalhar logo depois que eu nasci descobriu que esta vida de esposa, mãe e dona de casa era pouco para ela. Não demorou muito para ela descobrir uma forma de ter seu próprio dinheiro, mas estava longe de ser independente. Cozinhava muito bem, fazia lindos bolos confeitados, doces deliciosos e resolveu fazer cursos de bolos decorados, salgados e logo já estava fazendo bolos do Mickey, Pato Donald, Tio Patinhas, 3 Porquinhos,  Margarida, Mine, docinhos, salgados, enfim, fazia festas completas da decoração a comida e em pouco tempo já fazia para o condomínio onde morávamos,  prédios vizinhos, fora os amigos e parentes.
Tudo começou no meu primeiro aniversario todo decorado pela minha mãe, ainda que de forma tímida e simples. Um lindo bolo com cara de coelho, muitas balas de coco e docinhos espalhados pela mesa, sem contar os salgadinhos dela que eram uma delicia! Anos se passaram e no dia do meu aniversario de 9 anos, em um novo condomínio lotado de crianças, minha mãe fez novamente uma festa linda, o tema era o tempo e o bolo um relógio. Minha mãe, dona Iracema fechava seu primeiro negócio. Era uma delicia, sempre sobravam docinhos e salgadinhos e eu e meus irmãos dávamos um fim.
De todas as festas a que mais me marcou foi a do Pato Donald, o bolo e mesa decorada eram lindos, foi no aniversario do meu irmão. O bolo era coberto de coco ralado tingido, o casaco do Pato Donald era azul claro, a gravata vermelha, o chapéu azul escuro e claro, o bico laranja e sorridente fazia parecer que a felicidade dele por estar ali era tão grande que poderia sair brincando a qualquer momento. Lógico que o ciúme me bateu na hora e não deixei minha mãe em paz até que ela fizesse para mim o aniversário da Margarida.
E é claro que venci pelo cansaço. A Margarida era linda, sorridente, toda confeitada com coco ralado tingido em tons pastéis e um laço enorme de fita vermelha de cetim na cabeça, tinha um olhar de canto, como se estivesse paquerando o Pato Donald. Foi o melhor aniversário do mundo, embora eu e meus irmãos tivéssemos festas deste tipo, cheias de doces e salgados deliciosos todos os anos, essa foi incomparável.
As fotos me ajudaram por muitos anos a lembrar disso tudo, mas infelizmente todas estas fotos estavam em slides, hábito do seu Ibraim, meu pai, que adorava fazer sessões no fim de semana para reunir a família e vermos juntos as fotos através de um projetor que ficava refletido na parede da sala de jantar. Por ficarem muito tempo no porão da casa de uma tia depois que meus pais morreram, os slides mofaram e foram para lixo junto com muitas das memórias daquela época, pois como nas fotos antigas, a cada ano que passa as lembranças ficam mais distantes, desbotadas, translúcidas até que somem. Mas ainda tenho algumas boas lembranças na memória e várias fotos em papeis fotográficos que embora meio desbotadas, são as únicas recordações que tenho dos meus pais de quando eles ainda estavam vivos.
Paro para pensar e vejo que preciso tirar mais fotos com meus filhos hoje que são adolescentes. Porque deles pequenos tenho muitas, mas deles adolescentes não. Meus filhos tiram muitas fotos, em tempos do espetáculo mediático com todos os celulares com câmeras, difícil quem não tira. Tirem mesmo, tirem muitas fotos, elas nos ajudam a manter viva memórias de momentos importantes, divertidos, alegres, mas facilmente esquecíveis ao decorrer das décadas. Preciso usar mais minha filmadora. Urgente! Acabo usando mais em viagens.
Mas voltando a minha mãe, nada disto foi o suficiente. Ela resolveu vender roupa em casa. Montou uma loja retrátil no quarto do meu irmão, que também era usado como sala de televisão, pois não tínhamos TV na sala. Chamo de loja retrátil porque quando vários dos armários se abriam parecia mesmo que se estava numa loja, a escrivaninha era o escritório, as prateleiras divididas por numeração e em cada porta um estilo diferente de roupa. Comprava roupas no Brás,  José Paulino e até no interior e vendia para o condomínio inteiro que traziam amigas, primas, irmãs e mães. Era um entra e sai de mulherada, naquela época a maioria das mulheres do condomínio eram dona de casa, professora, trabalhavam meio período ou prestavam serviço voluntário, então estavam sempre tomando café uma na casa da outra nas horas vagas.
Bom, nem preciso dizer que o café passou a ser lá em casa e a central de fofocas também. Mas quando meu pai chegava nunca tinha ninguém. A casa estava sempre em ordem e o jantar quase pronto, era tomar banho e todos sentávamos juntos para jantar. Minha irmã era pequena nesta época e às vezes já estava no berço.
Era legal, minha mãe sempre tinha dinheiro para comprar as suas roupas, bolsas, sapatos. Ela era fanática por sapatos de salto e bolsas. Chiquérrima e arrumadíssima sempre, ela precisava de altura já que era baixinha, 20 centímetros a menos que meu pai, situação insuportável para ela. Nós três, os filhos, tínhamos que andar sempre arrumadinhos, ela comprava um monte de roupa para nós quando ia fazer as compras para a lojinha. E não deu outra, a mulherada do condomínio que já tinha conta, marcava na caderneta e pagava por mês, começou a pedir roupa de criança como as nossas. Chego a pensar que minha mãe instintivamente era uma ótima marqueteira, pois tudo que fazia para nós virava negócio para ela.
Não sei por que, talvez por falta de capital para investimento, minha mãe chamou a prima dela pra ser sócia da parte infantil. A prima topou e logo já estavam fazendo as compras para inaugurar a sessão infantil na loja retrátil no quarto do meu irmão. Para a inauguração do novo departamento da loja resolveram fazer um desfile de modelos adultos e infantis. Obviamente que os modelos infantis não tiveram escolha, eu e minha irmã e alguns primos fomos intimados, meu irmão acho que conseguiu escapar, não me lembro dele fazendo desfiles, mas pode ser só um ato falho de minha memória. No final eu adorei, também desfilaram uma prima da minha idade, uma prima já adolescente, uma prima casada já perto dos vinte e cinco anos e duas tias de uns trinta e poucos, irmãs do meu pai, já mais cheinhas, para representarem a maioria das clientes.
As modelos levavam pratos de petiscos e minha mãe e minha tia forneciam o chá, o café e o suco. Mas detalhe, o desfile foi no meu apartamento. Como era primeiro andar e minha mãe conhecia o condomínio todo, inclusive nesta época meu pai era o síndico, nunca tivemos problemas com vizinhos. Aconteceu num sábado, me lembro até hoje da minha mãe advertindo meu pai pela manhã_ “Vá logo para o clube, preciso arrumar a casa para o desfile e como vai ser só à tarde, vai terminar só no fim do dia, então demore pra chegar.”
O desfile foi um sucesso, a mulherada amou, levaram as mães, irmãs, fofocaram uma tarde inteira e compraram para elas e para os filhos. Mas algumas antes de ir embora foram dizer no pé do ouvido de minha mãe que no próximo desfile, elas queriam ser as modelos. Lembro das muitas risadas que minha tia e minha mãe deram depois disso. O negócio cresceu e as crianças do prédio e dos parentes consumiam roupas e festas. A esta altura minha mãe tinha até cartão de visita para o negócio das festas que precisou ser ampliado e começou a oferecer shows de palhaços, bexigas de bichinhos, mágicos e maquiagem.
Minha mãe estava feliz, por alguns poucos anos vendeu roupas e fez festas, na minha adolescência os desfiles eram no salão de festas do condomínio, com varias modelos, eu inclusive que além de achar tudo bem divertido cheguei a pensar em seguir carreira modelo. Até alguns homens começaram a acompanhar as mulheres aos desfiles pra comer os salgadinhos, docinhos e fazer o cheque no final. Na adolescência eu era só a amodelo, não usava mais nada do que minha mãe vendia, gostava de ir ao shopping comprar minhas roupas, já tinha enjoado de comer os salgadinhos e os docinhos e nem reparava mais quais eram os personagens que enfeitavam os bolos.
Me lembro da minha mãe vendendo roupas e fazendo festas até nos mudarmos de São Paulo, quando fomos atrás de uma promoção do meu pai. Só hoje vejo que ela foi contra a vontade, pois precisou deixar o seu negócio por conta da carreira do meu pai. Foi nesta época que minha mãe começou a dizer que deveríamos ter uma profissão, não adiantava ganhar dinheiro como ela fazia, em casa, isso não tinha valor e não era suficiente para manter uma família, precisamos ter uma profissão, estudar. Tenho certeza que puxei dela esse excesso de exigência comigo, com meus filhos e com o mundo... Mãe, onde quer que esteja, saiba que fiz o melhor que pude e que eu me orgulho do caminho que escolhi até agora. Com erros e acertos, coisas  que demoraram mais do que eu previa e queria, hoje esta como eu quero. O caminho é constante, é longo, mas meu passo já esta bem mais forte e equilibrado. Hoje escrevo as histórias que lembro para salvá-las de minha memória, para que não se apaguem como as velhas fotos e para eu possa ter você e o pai um pouco por perto.

Andrea Nero
Dez/2014

domingo, 18 de setembro de 2011

OS VISITANTES

Imagine um apartamento de pouco mais de 40 metros quadrados onde moram 2 velhinhos, Ruth, 89 anos e Beco, 92 anos com o cãozinho Rick, um poodou branco bem peludo e gordo de tanto comer pão e bolo para acompanhar seus donos. Imagine a rotina diária de muitos anos de repente ser invadida sem prévio aviso por 7 mulheres no meio de uma tarde!
Comece a imaginar, porque foi exatamente o que aconteceu na semana passada. Tudo começou com um telefonema onde minha prima combinava uma visita.
Silvia - Oi Ana, tudo bem? Tenho uma proposta.
– Oi Sil, tudo bem, qual proposta? (Esta sou eu)
Silvia – Quero visitar o Tio Beco, falei com ele semana passada, me pareceu bem, mas faz tanto tempo que não o visitamos que preciso ver de perto como ele esta. Vc não quer ir junto?
- Pode ser, faz tempo que não o vejo também, uma vergonha¸ mas a vida tá tão corrida, o trabalho, os filhos, o curso, ai... tá f...!
Silvia – Se sei.
- Mas vc sabe que ele às vezes não reconhece a gente, vai perguntar várias vezes a mesma coisa... Acho que por conta disso nem nota que não aparecemos mais...
Silvia – No telefone ele me pareceu bem, perguntou até do meu marido!
- Perguntou dos seus filhos? Dos seus sogros que ele adorava?
Silvia – Não...
– Então se prepare. Dependendo do dia dou um jeito de ir. Me avise.
No dia combinado, Silvia avisa que já está a caminho. Saio para encontrá-la sabendo que chegaria depois e ficaria pouco tempo, mas ao menos minha consciência ficaria mais tranquila. Quando chego ao apartamento onde mora o tio Beco com sua irmã Ruth, qual não é a minha surpresa ao ver que Silvia, sem me avisar, levou sua filha Cristal de 17 anos, nossa prima Meire com sua filha adolescente Bruna e nossas tias tortas Meire e Márcia, viúvas, que embora na terceira idade, se acham interonas e acreditam, aos quase 70 anos, que a velhice para elas ainda demora a chegar.
O micro apartamento estava lotado como saguão de pronto socorro. Precisávamos pedir licença uma as outras para se mover. Para chegar ao banheiro, duas pessoas precisavam levantar e afastar as cadeiras para que fosse possível abrir a porta. O cheiro de remédio por todos os lados impregnava até na alma e o cachorro que sequer sai na rua porque os dois nem de casa saem mais, estava tão eufórico com aquela gentarada falante, que não ficava quieto. Pulava de um lado para outro, lambia todo mundo, latia e não atendia a tia Ruth, que começa a demonstrar sua irritação dando severas broncas no coitadinho.
O pronto socorro foi rapidamente se tornando um verdadeiro hospício. Todas queriam perguntar aos dois, ao mesmo tempo, o que faziam, como estavam, quais remédios tomavam, quem cuidava deles, onde passeavam, ou seja, tudo que não perguntaram a eles por meses, algumas, até por anos de ausência e distância.
Como se eles já não estivessem tontos o suficiente, as tias visitantes, quituteiras de primeira, vão a cozinha e voltam com pão frances, pão de linguiça, bolo de fubá, mortadela, coca-coca e sei lá mais o que. Colocam a mesa sem pedir autorização e oferecem o lanchinho. O hospício tinha sido instaurado. Mal cabíamos todos sentados usando tudo que havia disponível, cadeiras, sofá, banquetas e de repente tínhamos uma micro mesa lotada com parte das visitas ao seu redor e os donos da casa sentados imóveis em seus lugares, completamente zonzos.
Logo que foi oferecido o lanchinho e divulgado o menu, Ruth se manifestou:
Ruth - Eu não quero nada, estou com dor de cabeça, não estou me sentindo bem. Mortadela, lingüiça, coca... Não podemos comer estas coisas, o Beco passa mal
Neste momento Silvia me cutucou e advertiu a todas na mesa de que tinha a impressão de que estávamos incomodando. Não acreditei no comentário. É claro que estamos incomodando, mas tudo bem pensei, afinal nunca tínhamos feito uma visita coletiva e provavelmente, outra, só em outra encarnação, pelo menos pra mim. Silvia acreditava que estavam apenas surpresos com a visita em grande escala e com direito a lanchinho. Mas jurava que tio Beco estava radiante.
Todas se serviram, Bruna e Cristal pareciam retirantes comiam e riam sem parar e as tias Meire e Márcia serviram tia Ruth e tio Beco. Por alguns instantes ficamos a cochichar na mesa, falávamos da casa deles, do cheiro de remédio, da cuidara Clara muito boazinha... Até que não resisti e fiz um comentário com segundas intenções.
- Vocês repararam que a TV esta no canal de segurança do prédio? Das outras vezes que vim aqui também estava neste canal, mas não tive coragem de perguntar por quê.
Começou um rebuliço na mesa, todas querendo saber se em algum momento eles assistiam a uma novela ou outro programa qualquer. Umas achavam que era conhecidência e falaram que o meu comentário era maldoso, outras ficaram chocadas com a possibilidade do isolamento do mundo, até que uma das tias ousou perguntar sobre a TV. Foi como puxar o fio solto de uma barra, uma após a outra perguntava sem que o pobre tio Beco tivesse tempo de responder. Uma falou da novela nova das 8,  a outra falou do BBB, depois falaram do ator que fazia o vilão da novela das 6 e não precisou muito para vir a resposta que ninguém queria ouvir.
Beco – Não...
Ruth - Televisão me da dor de cabeça, não liga, não liga, não to passando bem. Ai meu Deus, não to passando bem.
Beco – Não vejo novela, nem outros programas já faz tempo.
Silvia – Nem o Jornal ou o fantástico, sei lá?
Meire – O BBB, como o senhor consegue ficar sem ver o BBB tio...
Márcia – O jogo do Santos, vc nunca perdeu um jogo? Ainda mais agora que o Santos é o grande campeão. Isso aposto que vc acompanha.
Beco – Às vezes tento o rádio, mas não ouço direito, então logo desisto.
Enquanto riem entre os dentes de tão nervosas e teimam em não acreditar na revelação que tinham acabo de presenciar, resolvo que preciso tirar todas dali rápido, sinto que Ruth está nos fuzilando com o olhar.
– Eu avisei vcs que eles ficavam vendo a vida das pessoas do condomínio o dia todo e sem som. Vamos embora, estamos transformando a rotina deles num verdadeiro inferno. A Ruth esta passando mal por que não está acostumada com gente, ainda mais muuuuuita gente. Já to me sentindo culpada de ter vindo incomodar.
Por alguns segundos todas como que hipnotizadas ficam observando a TV e seus muitos quadrados, cada qual com um lugar do prédio, os elevadores, o hall do prédio, a portaria, a garagem, a calçada, o portão eletrônico. Foi unânime. Bater em retirada o mais rápido possível era o mais sensato a fazer. Em dois minutos, tiramos a mesa, lavamos xícaras, copos, pratos, nos despedimos dos dois e do Rick que nos acompanhou até o hall. Na saída Ruth olha para Silvia e para mim e pergunta:
Ruth – Quem são vocês? Eu conheço vocês? Vocês já vieram aqui antes?
Eu, constrangidíssima, ainda tentei explicar o grau de parentesco, Silvia tentou ajudar, mas a coisa só piorava. As tias inteironas, chocadas, não conseguiam se pronunciar, as adolescentes riam entre si e cochichavam baixinho algo que ninguém entendia. Neste instante saia justa interminável, surge o elevador que soa como um gongo de salvação. Nós 7 entramos correndo no elevador completamente atordoadas com a realidade que acabávamos de presenciar, com a sensação de que não fizemos bem a eles e muito menos a nós com aquela visita. Quando a porta do elevador se abriu a falação começou de novo. Todas falavam juntas e ninguém ouvia ninguém. Cada uma tomou seu rumo e desapareceu, depois me dei conta que nós nem nos despedimos umas das outras.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Primeira Aula


Nesta sexta feira, dei minha primeira aula na oficina de Blog. Na verdade foi muito mais um bate papo para conhecer um pouco de cada um, um tira dúvidas para entender o que os levou até ali do que realmente uma aula. Por mais que estivesse aberta para a diversidade dos alunos que viriam, fui surpreendida, principalmente pela diversidade de idades.
Foi muito interessante ouvir os anseios, as perspectivas e também a falta delas em algumas pessoas. A falta muitas vezes é o que nos faz ir atrás, em busca de algo que embora não saibamos exatamente o que... Nos instiga e nos faz crescer.
Me surpreendi com histórias, vivências e com a idade dos participantes, pois pelo tema “BLOG” esperava mais adolescentes e jovens no início da vida adulta. A variedade da faixa etária será um desafio, pois o que interessa ao mais novo de 11 anos, com certeza não vai interessar aos de 20, aos de 30, aos de 40 e muito menos ao de 50. Ou será que estou enganada?
Uma variedade rica e desafiadora, me fará nos próximos 4 meses, estudar, pesquisar e analisar o que pode ser interessante para integrar estas pessoas que com certeza tem experiências de vidas muito diferentes, mas com um desejo em comum, o de se tornarem blogueiros.  Como fazer com que cada um entre um pouco na realidade do outro para que possamos discutir juntos o mundo em que vivemos?
O desafio vai além da idade, das experiências, das perspectivas ou dos motivos que os tenha trazido ao mesmo lugar. O desafio é desabrochar em cada um sua própria verdade, seus reais anseios, a criatividade, o senso crítico e com isso ajudá-los  a expressar melhor  suas opiniões sobre violência, sexo, drogas, família, escola, futebol, profissão, futuro e muito mais.
 Talvez o mais importante seja os fazer ver que não importa a idade ou o caminho que tenham percorrido até agora, o que importa é saber que sempre é tempo de mudar, aprender, recomeçar ou simplesmente fazer diferente.

sábado, 30 de julho de 2011

UMA NOVA JORNADA

O vazio me tomou e por isso me afastei. Era um vazio tão intenso e tão cheio que não sobrou tempo para nada que não fosse reflexão. Como num labirinto, me pus a caminhar e a buscar a saída do vazio. Durante a caminhada me dei à chance de viver e sentir coisas novas, mas não foi por acaso. A reflexão me fez repensar minha jornada, meus valores, medos, desafios e oportunidades.  Aproveitei esse tempo a meu favor. Escrevi muito, li, viajei, ampliei minhas fronteiras do conhecimento e das relações e me propus a uma nova jornada, a de professora.
Troquei o vazio por uma enorme responsabilidade, a de levar um pouco de conhecimento, cultura e oportunidade a alguns poucos adolescentes numa ONG. Espero estimular a criatividade, construir idéias, atitudes e posturas perante os fatos reais, sentimentos e desejos. Pretendo transmitir a todos o quanto é maravilhoso o conhecimento e o tanto que nosso mundo se amplia através dele.

Na oficina ajudarei cada um a fazer seu BLOG e o usarei como método de incentivo a escrita, a leitura e a pesquisa. A arte, a literatura, a música e o cinema serão meus grandes aliados como incentivador de exprimir posturas, atitudes e ações que resultem em textos originais. O imaginário servirá para promover o cruzamento entre palavra, pensamento e escrita. Com isso espero ajudá-los a refletir sobre a vida e suas opiniões sobre violência, sexo, drogas, família, escola e futuro.

O meu vazio se foi porque coloquei algo em seu lugar.  A vontade de abrir horizontes, iluminar caminhos, contribuir para um mundo melhor e com mais oportunidades. Se isso vai dar certo ou funcionar como espero, não sei, mas postarei por aqui toda essa minha nova experiência, além de tudo mais que transbordar e precisar ser dito. De uma coisa desde já tenho certeza, todos nós temos algo de grande valia para o outro que pode ser passado adiante. O que você tem para passar?

quinta-feira, 28 de abril de 2011

DAS TREVAS À LUZ

Minha vida foi uma transição, da sensação de vazio para uma prisão abstrata, com ilusões, filhos, correria e morte.
Para na virada da década surgir o sonho de felicidade e com ele vislumbrar a liberdade, a selva, o riacho, o túnel. Vi as correntes se soltarem e a prisão se abrir.
Amplidão e luz foram a primeira visão para a felicidade, da morte a vida, da esquizofrenia a eternidade de sentimentos.
Uma reviravolta em meu interior fez surgir de minhas cinzas, um ser capaz de criar, viver sonhos, buscar o inimaginável.
Da morte em vida, o amor pela vida e a sede do saber, do conhecer e de ser.
Um ciclo se fecha, pois voltando ao ponto de partida, vejo tudo como espectadora e não mais como personagem.


Andrea Nero

MAR DE REVOLUÇÕES

Mar de Revoluções

Sonhos em ebulição

A caminho de conclusões

Saboreando a percepção

Aguardando conclusões.

Sigo com atenção

Num presente cheio de emoções

Podem vir decepções

Mas também soluções.

São tantas as sensações

Acalmo meu coração

Para que não sofra desilusões.

Não cuidar seria falta de atenção

E isto está fora de questão

Porque no meio da confusão

Pode vir um furacão

Ou me colocarem no paredão.

Isso é só um desabafo, não quero sua opinião.

De repente a iluminação

Com ela a solução

Criei uma fabulação

Em torno da paixão.

Agora é parar com esta agitação

Deixarmos pra lá esta falação

E gozar do tesão

Antes que venha a separação.


terça-feira, 12 de abril de 2011

O CONVITE

No início da madrugada me é feito o convite ao inusitado. Convite de viver durante algumas horas algo que não tenho idéia onde vai dar. Nada faz sentido algum, é estranho, mas excitante, é assustador ao mesmo tempo em que inevitável e imprescindível. Aceito o convite, é claro, afinal o inusitado é sempre bem vindo. Sem ar e de braços dados com o inconsciente, sigo pelo caminho, uma estrada escura onde o farol nos mostra quase nada, mas o vento que entra pelas janelas do carro, gela-me a alma e refresca o suor do meu rosto.

 Entre um cigarro e outro, as revelações são lançadas as metades, onde os intervalos entre elas fazem parte do jogo. Jogo onde se testa a confiança, onde se compartilha a sombra, toca-se e tateia-se cada sentimento do self. Jogo perigoso dilacera e nos defronta com nossos demônios. Nos faz lamber as feridas, já que ainda não é hora para a cura. Mente aberta, focada e alerta, mas corações sangrando e almas perdidas num breu profundo e silencioso, aos poucos cúmplices e amantes. Sombras amantes, pois só elas ousam se tocar. Na parede observo a coragem das sombras, com ela deliro, a fim de poder através dela, sentir seus cabelos, seu rosto, sua boca.

 Estamos um a fitar o outro, a testar limites e dor, a descrever sentimentos, falar de amor. No auge de nosso presente incrédulo e improvável, revisitamos o passado na busca de um caminho com rumo ao futuro. Vivo este segundo quase sem respirar, pois como momento único tento retê-lo ao máximo.  Estou imóvel e dilacerada, por mais que eu queira não consigo me mexer, preciso tocá-lo, meu corpo pede, grita, implora, mas algo me impede.

 Estou gelada e de frio, chego a tremer. De novo o impulso do toque na pele, no cabelo, mas só os olhos são capazes de se aproximar. Observo o homem, o menino, a sombra e o futuro pai. Pai, já vitorioso, pois imerso na bolsa junto a seu filho, quer fazer-se melhor, mais digno de sua missão. Lutando com seus demônios para superar os medos do desconhecido, doença de sua alma, e no pavor de repetir erros vividos outrora, nem percebe que já está surgindo de suas entranhas, um novo ser. Sensível, profundo, extremamente verdadeiro e com todos os defeitos e inquietações derramando de suas feridas.

Feridas que ão de cicatrizar. Quero ajudar, dar colo, cafuné, apertar contra meu peito, mas não ouso. Petrificada, finjo por um instante que está deitado em meu colo, que passo meus dedos entre seus cabelos, que beijo sua boca úmida, que o aperto com força e curo suas feridas. Meu corpo esquenta e com o calor me movo, mas em sentido contrario ao seu corpo, que me atrai como um ímã, mas me esquivo.

No toque sutil da despedida, me dou conta do quanto foi único, especial e íntimo. A troca de energia, confiança, respeito e admiração foram de um êxtase nunca por mim experimentado. Por mais fundo que tenhamos chegado, por mais absurdo que possa parecer, agora faz todo sentido. O coração afinal tomou de volta seu lugar de senhor absoluto do nosso corpo, o deixamos gritar, espernear, sonhar, viajar até que você mais leve e forte, pudesse voltar do exílio de si mesmo para a vida de novo enfrentar.